Experimentem conversar mais com quem não conhecem, olhar nos olhos de quem passam na rua, abrir o coração a histórias que não são as nossas. Experimentem confiar antes de desconfiar. É desconcertante. É arriscado. Mas também pode ser profundamente transformador.
O texto da semana passada da amiga e parceira deste projeto, Paula Cardoso, fez-me pensar. Primeiro, confesso, veio aquele receio: “Mas será que ela tem noção do perigo?”. Depois, admirei a coragem em deixar-se guiar pelo gut feeling. Essa intuição que muitos de nós ignoramos, mas que carrega sabedoria. É como se o corpo fosse um radar, captando sinais que a mente ainda não entendeu. Algo profundamente humano, que a ciência explica como uma resposta rápida ao ambiente e a espiritualidade reconhece como conexão com algo maior.
A semana passada fui ao Web Summit, e não pude evitar que essa reflexão voltasse à tona. Entre palestras sobre inteligência artificial, gestão de pessoas e criação de conteúdos, dei por mim a observar o que estava à minha volta. Para mim, estar num evento desta magnitude é intenso. Gente por todo o lado, um turbilhão de ideias, e aquela sensação de que todos estão ali a confiar em algo maior – no futuro, nas oportunidades, ou simplesmente na energia coletiva daquele espaço. Fico sempre impressionada com a azáfama, com a dedicação, com o otimismo que pulsa num lugar assim. E pensei: será que estar ali, naquele ambiente, não é também um ato de fé?
Eu, por outro lado, sempre balanço entre confiar e desconfiar. Talvez como muitos de vocês. Depois de desilusões e quedas, a desconfiança tornou-se um escudo. Um mecanismo de autoproteção que me mantém alerta. Mas também sei que confiar me trouxe momentos de alegria, encontros inesperados e bênçãos. E fico com a pergunta: como equilibrar estes dois lados? Como confiar sem nos expormos demais? Como nos protegermos sem bloquear as oportunidades de conexão?
Viver de pé atrás pode parecer seguro, mas não é viver plenamente. É como trancar as portas por medo e, no processo, perder a vista de um horizonte cheio de possibilidades. Por outro lado, confiar não significa ser ingénuo. É um exercício consciente, de olhar para o outro com curiosidade, de dar uma oportunidade ao inesperado. É um risco, sim, mas é também uma escolha que nos lembra de algo essencial: não somos apenas indivíduos isolados, mas parte de algo maior.
Enquanto refletia sobre isto, surgiu-me outra pergunta: e se ensinássemos as crianças a confiar antes de desconfiar? Como seria o mundo se, desde cedo, cultivássemos esta abertura em vez do medo? Será que a confiança não é, afinal, o terreno fértil onde florescem as maiores conexões?
Por isso, experimentem. Experimentem olhar para o desconhecido como uma oportunidade, não como uma ameaça. Experimentem ouvir uma história nova, aceitar um convite inesperado ou dar um voto de confiança. Porque mesmo que a confiança seja traída, ainda assim terão vivido, tentado, aprendido.
E, quem sabe, até encontrado algo belo.