Os voos internacionais são uma constante na vida de Aua Baldé que, muitas vezes, encontra na filha, Aicha, o caminho para ‘descer à terra’. “Por ela sou capaz de parar o mundo”, declara, rendida ao “grande privilégio” de desfrutar da maternidade. “Acho que as mães têm uma linha direta com Deus”, diz, enquanto aponta a própria progenitora como o seu porto seguro.
“A minha mãe tem uma capacidade de empatia que não conheço [em] mais ninguém”, assinala, contrabalançado com o exemplo paterno. “O meu pai sempre me disse: o teu marido é o teu diploma. Portanto, não era uma opção eu não ir para a universidade”.
A par dos estudos, Aua foi desenvolvendo um forte sentido de Justiça, canalizado para a especialização na área dos Direitos Humanos, património ameaçado por uma série de retrocessos democráticos.
“A batalha por aquilo que é certo e que faz sentido para nós tem que persistir”, defende, partilhando a importância da “visão do unicórnio”.
Nascida na pequena cidade de Canchungo, na Guiné-Bissau, Aua Baldé conserva memórias de uma infância feliz, povoada de laços comunitários.
Ainda pré-adolescente, mudou-se para Portugal, período marcado por alguns desafios de integração, nomeadamente linguísticos.
“O meu sotaque era completamente diferente e os meus colegas riam-se”, conta neste episódio, de volta ao “pesadelo” das aulas de Português do 6.º ano.
Hoje formada em Direito, é professora universitária, mestre pela Harvard Law School, e doutoranda na Católica Global School of Law, destino académico que, sem os estímulos familiares, seria, à partida, inimaginável.
Habituada a desafiar probabilidades, Aua dedica-se ao estudo e pesquisa na área do Direito Internacional Público, onde sobressaem as especializações em Direitos Humanos e Direito Penal, e a ligação a organizações globais, como as Nações Unidas.
Mas, por mais milhas e diplomas que some, é na Guiné-Bissau que se encontra inteira. “Um bocadinho da minha alma sempre fica lá”.