Novo episódio: Carlos Andrade
“Temos que construir e contar a nossa própria história de África”
Popularizado nas redes sociais, pela criação de conteúdos humorísticos em crioulo cabo-verdiano, Carlos Andrade, ou simplesmente ‘Artolash’, estende cada vez mais a sua influência digital aos palcos. Autor do espetáculo “Berdianos ka Konxi Limiti” (“Cabo-verdianos não conhecem limites”) – com o qual esgotou, no último sábado, 20, o Auditório Nacional da cidade da Praia, em Cabo Verde –, o humorista é o convidado desta semana de Georgina Angélica e Paula Cardoso.
Quando olha para a chegada a Portugal, aos 16 anos, Carlos Andrade vê com nitidez não apenas o que encontrou, mas sobretudo o que ficou para trás. “Se permanecesse em Cabo Verde, acho que o meu futuro teria sido muito diferente”, diz, enquanto revisita impulsos adolescentes.
“Comecei a fazer umas coisas um bocadinho manhosas, a dar-me com pessoas que não devia. Uma delas está presa, outra morreu”, conta neste episódio d’ ‘O Tal Podcast’, sem esquecer um encontro providencial com um polícia à paisana.
“Apontou-me uma arma, encostou-me à parede, revistou-me e disse: ‘O que estás a fazer? Volta para casa!”.
Carlos obedeceu e, embora não acredite em planos divinos, ficou com a sensação de que talvez a mãe já pressentisse o pior. “Percebeu que se não me tirasse de Cabo Verde, provavelmente alguma coisa de mal poderia acontecer”.
Como quem dá à luz a várias vidas do filho, Inês Andrade, mãe do humorista, está no centro de todas as grandes mudanças da sua história.
Para começar, foi a mãe quem tratou de tudo para que, ainda no secundário, viesse estudar para Portugal. Depois, encorajou-o a nunca desistir dos estudos, via de acesso à SIC, onde a produção e gestão de conteúdos o transportou para vários momentos inimagináveis.
“Nunca pensei falar pessoalmente com a [atriz] Juliana Paes, e ela já bebeu grogue comigo, porque quando fui para os Emmy levei uma garrafa, e fiz um conteúdo incrível com o pessoal”.
O momento viveu-se em 2019, em Lisboa, na Gala Semifinal dos International Emmy Awards, numa altura em que a sua mãe já se tinha transformado numa espécie de talismã artístico.
“Representei-a muito em vídeos e sketches que me catapultaram no mercado cabo-verdiano, para ser mais conhecido e fazer mais shows”.
Com a recriação, em personagem, da figura da mãe cabo-verdiana, inspirada na sua própria progenitora – a que se juntam outras criações icónicas, como Djubensu –, ‘Artolash’ foi firmando assinatura humorística nas redes sociais, sempre em crioulo, presença hoje popularizada muito além do digital.
Depois de várias apresentações para a diáspora cabo-verdiana nos EUA e em países europeus, o comediante esgotou, no último sábado, 20, o Auditório Nacional da cidade da Praia, em Cabo Verde, com o espetáculo “Berdianos ka Konxi Limiti”. Em português, “Cabo-verdianos não conhecem limites”.
A proposta estreou-se este ano em Lisboa, confirmando que, também por cá, há público para a comédia em crioulo.
“Sinto que tenho uma responsabilidade com Cabo Verde, porque não há muitas pessoas a fazer conteúdos em crioulo”, nota o humorista, nesta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso.
Mas, muito mais do que subir ao palco disposto a arrancar gargalhadas de audiências, o humorista – e assumido viciado em fazer rir os outros – orgulha-se de contribuir para a emergência de uma nova geração de comediantes.
“Vários humoristas cabo-verdianos agradecem-me porque tive influência no começo da sua carreira. Hoje estão a trabalhar, e conseguem fazer dinheiro online, com humor e publicidade. Isso deixa-me contente”, revela Carlos Andrade.




