Novo episódio: Israel Campos
“A luta acontece de várias maneiras. Utilizamos vários recursos, mas é importante que nunca normalizemos o sofrimento do outro”
Batizado à letra do nome de um dos estados que, nos últimos tempos, mais tem mobilizado protestos a nível global, o convidado deste episódio d’ O Tal Podcast, começa por partilhar o peso que cabe na sua identificação.
“Não tem sido fácil carregar o nome Israel. Em Inglaterra, já me cancelaram viagens de Uber. Entrei no carro, e disseram: não te vamos levar por causa do nome. O clima é de tensão alta”, conta, amenizando, contudo, o “mal menor” que lhe coube em sorte.
“Somos privilegiados, estamos numa parte do mundo em que podemos acordar, fazer a nossa vida, ir ao parque, trabalhar, brincar com os nossos. Mas o que devia ser tão comum e universal, não é”.
Desde a infância atento ao que acontece ao seu redor, Israel Campos recorda, nesta conversa, como o ambiente familiar o preparou para ler, questionar e escrever sobre a atualidade.
“Cresci em Luanda, ao lado de muitos ‘mais velhos’, no seio de jornalistas, a ouvir conversas sobre o estado do país e a política”.
Filho de Graça Campos, referência incontornável do jornalismo em Angola, o convidado desta semana de Georgina Angélica e Paula Cardoso reflete sobre o acesso precoce a um manancial de conhecimentos.
“Em casa já havia uma biblioteca, que era do meu pai e, portanto, sempre fui muito incentivado a ler. No contexto angolano é um grande privilégio”.
Hoje com 25 anos, e várias distinções e prémios jornalísticos, académicos e literários, Israel faz questão de transformar as oportunidades e aprendizagens em vias de construção coletiva, talento que levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a convidá-lo a integrar um grupo de jovens que reflete sobre o futuro de Portugal.
“A noção de serviço público passou a ser um grande elemento na minha vida profissional e pessoal”, sublinha, recuando à experiência precoce como locutor de rádio, entretanto amadurecida na universidade e numa carreira em jornalismo.
Tudo começou aos 12 anos, revela o também escritor, de volta ao momento que lhe abriu as portas da Rádio Nacional de Angola (RNA).
“Fui convidado para ir ao programa infantil Kaluanda Pió, falar do meu interesse pela escrita e pintura. O produtor gostou muito da minha desenvoltura e convidou-me para ir voltando”.
O primeiro contrato não tardou – “Tive que ir com a minha mãe assinar, porque era menor de idade” –, e marca um antes e depois nesta história.
“A experiência na rádio foi muito importante para a minha formação pessoal e profissional”, nota Israel, que, a partir do rigor dos horários – “eram programas em direto, e em direto não há atrasos” –, aguçou o sentido de responsabilidade e compromisso cívico.
“Hoje trabalho mais como freelancer, e estou mais dedicado a questões académicas, mas o serviço público continua a pautar a minha atuação: penso em que medida posso utilizar o privilégio que tenho, para servir de alguma maneira”.
Entretanto desvinculado da RNA, na sequência de um episódio de censura, Israel Campos comenta, neste episódio, o estado do jornalismo e da política em Angola, inspirações para a tese de doutoramento que ganha forma a partir de Inglaterra. Muito mais do que um destino de estudos superiores, uma espécie de refundação de identidade.
Saiba de que forma, na conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso.