Novo episódio: Pedro Hossi
“A ficção nunca vai superar a realidade. A realidade é sempre muito mais potente do que qualquer plano, qualquer estratégia”
Às vezes em estúdios de televisão, outras nos palcos do teatro, e também pelos plateaux de cinema, Pedro Hossi veste e despe personagens há mais de duas décadas. Ator com formação no prestigiado Lee Strasberg em Nova Iorque, o também realizador conta, neste episódio de O Tal Podcast, como passou de “vadio” a “príncipe” no mundo da representação.
As inesperadas categorias profissionais, que conheceu a partir das lições do veterano George Loros, marcam o arranque desta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso, pontuada por reflexões sobre a carreira, a família e a espiritualidade.
“Sinto-me muito tranquilo em relação ao passar do tempo e dos dias. Mas há coisas que quero fazer, e estou muito mais consciente em relação àquilo que tem que ser feito”, aponta o angolano, sublinhando que nem sempre foi assim.
“Padeci dessa doença de me levar muito a sério quando comecei”, recorda, enquanto avalia o currículo de aprendizagens. “Fui parar a uma escola de teatro que ensina uma técnica – o método – que convida o ator a mergulhar em si para emprestar isso à personagem”. O processo, explica Pedro, “faz com que os atores fiquem no seu mundo”, fechamento que se pode revelar problemático. “Levou-me algum tempo a sair daí”.
Assim encerrados, como nos libertamos de nós mesmos?
“Lembro-me de estar num período desajustado, com muitas questões e talvez alguma falta de fé, e de ter feito uma viagem que me ajudou a restaurar esse conceito de fé, e a perceber que o mundo não anda à deriva, e a perceber também que o carma tem a ver com as nossas ações”.
Hoje apaziguado com as perdas da vida, “sejam mortes, fins de relações, pessoas que se afastam”, o ator considera que “aí existe muita graça”, porque “é quando provavelmente estamos mais próximos de Deus”.
Não a representação cunhada pelas religiões, mas aquela intrinsecamente humana. “Acho que existe um Criador, mas nem me atrevo a tentar descodificar que criador é esse, se tem formas, se é uma energia”, revela o convidado desta semana d’ O Tal Podcast, para quem “todos somos seres espirituais”, ainda que muitos de nós se tenham esquecido.
“Quando tudo está a desmoronar, ou falha, ou quando estamos num lugar de perfeito desajuste, podemos sempre fechar os olhos, respirar fundo e meditar”, propõe o ator, que encontrou nessa desaceleração uma prática diária, com ganhos assinaláveis.
“Sinto-me com muito mais energia vital hoje do que tinha há 10 ou há 20 anos. Tenho uma prática física muito regular, e isso tem mais que ver com processos mentais do que com processos físicos”.
Talvez por isso, Pedro veja como redutor o conceito de saúde mental. “Acho que essa designação fica muito aquém do flagelo real do que vai dentro da cabeça das pessoas”, nota, sem hesitar no autodiagnóstico. “Sou duro comigo, especialmente quando fico aquém daquilo que sei que é a minha capacidade”.
Consciente de que não está sozinho nesse processo de autoflagelação, o angolano considera que “as nossas cabeças são lugares violentíssimos e horríveis”, acrescentando: “Nós somos os nossos piores inimigos, somos extremamente duros connosco”.
Nesta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso, o ator angolano partilha também a proximidade aos avós e à mãe – que o teve com 15 anos –, e revisita o polémico beijo gay que protagonizou na novela angolana Jikulumessu.
“Fui ameaçado uma vez na rua [em Luanda]. Lembro-me de um tipo se ter dirigido a mim e dizer: vocês estão a trazer para aqui essa coisa da homossexualidade. Isto não faz parte da nossa cultura”.





