Há alguns anos, fui apresentada à música de Nina Simone por um amigo que descrevia, com grande intensidade, o impacto que a canção Sinnerman tinha sobre ele. Na altura, confesso que não compreendi totalmente o porquê de tamanha conexão. No entanto, ao interpretar a letra da música, percebi a profundidade da sua mensagem: não há como escapar às consequências das nossas ações, e todos, em algum momento, enfrentam o julgamento — seja do divino ou da própria consciência.
A partir daí, mergulhei no trabalho de Nina Simone, essa mulher icónica, irreverente e inconformada com o inaceitável. Para mim, ela personifica a luta interna entre luz e sombra, uma batalha que acredito ser o maior desafio de todos nós.
Sempre me angustiou o facto de artistas como Nina Simone terem vidas marcadas por grandes desilusões, fins trágicos e solitários, e só depois da morte serem verdadeiramente reconhecidos e celebrados. Claro, há um contexto político, social e económico por trás dessas histórias. O ponto em comum entre esses artistas é a coragem de não compactuar com injustiças e de não se calar perante o que está errado. Mas será que não tinham medo?
Nina Simone deixou-nos uma frase icónica sobre liberdade, frequentemente interpretada como uma reflexão sobre o medo: "Eu vou-te dizer o que é liberdade para mim: não ter medo."
Simples, mas profundamente poderosa. Para Simone, a verdadeira liberdade não está apenas na ausência de opressão, mas na ausência de medo — condição essencial para viver de forma autêntica. Esta frase ressoa profundamente comigo, mas não posso deixar de me perguntar: como é que se vive sem medo num mundo que constantemente nos incute medo?
Admito que tenho muitos medos. Embora ouça frequentemente que sou uma pessoa corajosa, quem me conhece bem sabe o quanto me custa encontrar essa coragem. No entanto, a vida ensinou-me que quem não arrisca, não petisca, e eu tenho arriscado.
Aceitei o desafio de co-criar e co-produzir este podcast. Arrisquei ao aceitar o convite para conduzir conversas que tentam, ao máximo, focar não no que as pessoas fazem, mas em quem elas são. Depois de um ano e quatro temporadas gravadas, sinto-me imensamente grata por ter avançado — com medo mesmo. Dei o salto.
O podcast tem sido um veículo de aprendizagem e transformação. Quando digo, ao fim de cada conversa, que saio mais consciente e engrandecida, não é apenas uma frase bonita. Quem me conhece sabe que sou educada, mas não finjo. Se gosto, gosto; se não gosto, não digo que gosto.
O que une Nina Simone, este podcast e o medo? A busca pela verdade. Ser verdadeiro não é fácil. Não fazemos muitos amigos ao longo do caminho, mas vale a pena.
A frase de Nina Simone sobre liberdade é, para mim, um guia: viver sem medo é viver em liberdade. Talvez nunca consigamos eliminá-lo por completo, mas podemos agir apesar dele. Este podcast é a prova de que o medo não precisa de ser um obstáculo intransponível, mas sim uma força que, quando enfrentada, nos impulsiona para um lugar de maior autenticidade e crescimento.
Que sejamos corajosos o suficiente para continuar, mesmo quando o medo nos acompanha.