Na semana passada, a Paula e eu aventurámo-nos numa experiência única: uma visita ao Lagar das Almas, o espaço da Maria Gorjão Henriques, uma das convidadas desta temporada de "O Tal Podcast". Quando a Maria nos convidou, aceitámos sem hesitar. Afinal, tudo o que nos oferece ferramentas para nos tornarmos mais conscientes daquilo que nos move nesta jornada de sermos humanos recebe o nosso "sim" imediato.
O cenário era encantador: um lugar bonito em Sintra, onde a natureza convidava a momentos de introspeção. Foi ali que assistimos a uma série de constelações familiares e acabámos por nos envolver noutras. Desde então, essa experiência tem permanecido comigo, trazendo reflexões que continuam a surgir. Mais uma vez, ficou claro que os nossos sistemas familiares guardam segredos e dores que nos moldam. O que nos aconteceu na infância, os traumas que nos marcaram e que muitas vezes enterrámos para evitar encarar, precisam de atenção para que possamos libertar-nos.
Foi em 2018 que tomei conhecimento das constelações familiares, este recurso de autoconhecimento que promete abrir os olhos para aquilo que insistimos em ignorar. Comecei o meu caminho rumo à descoberta pessoal com a ilusão de que, em um ano, resolveria todos os meus problemas. Que ingenuidade... Mal sabia eu que estava a abrir a minha própria Caixa de Pandora. Agora, na recta final de 2024, continuo neste caminho de autodescoberta — intenso, solitário e, admito, transformador.
Constelações familiares exigem coragem e abertura. Por vezes, desafiam-nos a olhar para padrões emocionais que antes eram invisíveis, obrigando-nos a prestar atenção ao que sempre esteve ali. Cada constelação é como uma lente que amplia os detalhes de uma teia intricada de relações, escolhas e bloqueios que nos condicionam. Mas também é uma oportunidade única para reescrever a narrativa e devolver-nos à nossa essência.
E foi isso que vivemos em Sintra. Sob a liderança de Maria Gorjão Henriques, uma mulher de presença magnética e sabedoria encantadora, fomos convidadas a participar e a observar-nos através das constelações. A Maria, com o seu jeito directo e acolhedor, faz com que enfrentemos os nossos fantasmas sem rodeios. Não nos pega pela mão; entrega-nos um mapa e diz: "Enfrenta o labirinto."
Hoje, ao olhar-me ao espelho, vejo uma mulher que não só se admira, mas que também aceita o processo contínuo de transformação. Vejo coragem para enfrentar-me, dignidade para libertar-me do que já não me serve e escolhas autênticas que reflectem a minha essência. Claro, isso tem um custo. As noites solitárias de reflexão, as lágrimas derramadas em momentos intensos e os confrontos internos não são fáceis. Mas tudo o que realmente vale a pena tem o seu preço. E é exactamente isso que torna o percurso tão valioso: a dor deixa de ser um inimigo e transforma-se numa aliada, o fogo que purifica e renova.
A constelação foi um espelho dessa jornada — um convite para ver com clareza os padrões escondidos e abrir espaço para a liberdade de ser.