Olá, desde quando nos desconhecemos? – a vida em 5C
Mas como encontrar em nós a humanidade que habita fora de nós?
Impressa em tamanho de bolso, a nota de boas-vindas ao universo WNRS, para onde vos dirijo uns parágrafos mais abaixo, vem assinada pelo seu criador, em jeito de recomendação.
Nestes termos: “Olá, estranho, descobri que há duas formas de jogar: pelo seguro ou para crescer. A segunda é aquela que te permite vencer”.
Revisito a mensagem, recém-regressada de três dias no meu destino preferido, que passo a apresentar: Planeta 5C, humanamente habitado por conversas que se expandem em confidências e consciência, e sustentam a construção de cumplicidades.
Não conheço um único mapa, nem acredito que possa existir um mapa único para lá chegar. Mas, desde o primeiro check-in, tenho a humana convicção de que essa é uma viagem exclusiva para quem experimenta desacelerar, aceita reajustar a própria rota, permite a acomodação de vários formatos de bagagem, e confia no desconhecido, seja ele um lugar, espaço, tempo ou pessoa.
Ou, escrito de outro modo, independentemente dos nossos pontos de partida, desvios, paragens e colisões, o acesso ao Planeta 5C faz-se sempre via WNRS. Que é como quem diz, pela afirmação e celebração de que “We’re Not Really Strangers”, ou, em português, de que, a partir do momento em que nos reconhecemos igualmente e imperfeitamente humanos, percebemos que “nós não somos realmente desconhecidos”.
Mas como encontrar em nós a humanidade que habita fora de nós? Proponho que comecemos por avançar nos termos recomendados pelo criador do universo WNRS: deixando de jogar pelo seguro.
A proposta materializa-se num baralho, dividido em três níveis de partilhas, desencadeadas por questões que nos permitem, num primeiro momento, avaliar como as outras pessoas nos vêem e que assumpções fazemos delas. Dou o exemplo de pergunta presente numa carta WNRS de nível 1: “O que o meu Instagram diz sobre mim?”.
Na fase seguinte, em que saímos do domínio das percepções para o da conexão, encontramos, entre dezenas de outros questionamentos este: “Já disseste amo-te a alguém, sem o sentires verdadeiramente? Se sim, porquê?”.
Finalmente, no último nível, orientado para a reflexão, o baralho inclui perguntas como: “O que mais te custa compreender sobre mim?”.
À medida que o jogo de cartas progride – podendo desenrolar-se a dois ou em grupos de no máximo seis pessoas – torna-se evidente que “nós não somos realmente desconhecidos”, mas andamos demasiadas vezes desencontrados.
Desde quando?
Talvez nos falte curiosidade para ir ao encontro do “outro”, mas, mais do que isso, parece-me que, colectivamente avaliando, sofremos de um défice de criatividade combinado com um excesso de incredulidade.
De tal forma que não falta quem veja em propostas de encontro humano, matéria de confronto desumano. Mas, como eu sou dos encontros, e dos humanos, entusiasma-me continuar a desafiar a ideia de que pertenço a uma espécie em vias de extinção.
Pode ser num fim-de-semana em 5C, num jogo de cartas, ou numa conversa d’ O Tal Podcast. Como a última que gravámos ao vivo, com a Catarina Marques Rodrigues e a Selma Uamusse como convidadas.
Nesse episódio, que podem ouvir aqui, a artista moçambicana lembrou-nos o poder de construirmos comunidades para nos elevarmos humanos: “Mudo de casa, e a primeira coisa que faço é tocar à campainha dos vizinhos e dizer: Olá, eu sou a Selma, este é o meu marido, estas são as minhas filhas, se precisarem de alguma coisa, nós estamos cá”.
Quem está mais?