Sempre me perguntei como me apresentar. Se deveria escolher apenas uma palavra. Se deveria vestir um título suficientemente sólido para que os outros soubessem "o que esperar de mim". Mas quanto mais caminho, mais percebo que a resposta é: sou múltipla.
Desde cedo, os interesses foram-se acumulando: educação, cultura, inovação, bem-estar, comunicação, liderança... Nunca me encaixei numa linha recta. Cresci a tecer uma colcha feita de muitos retalhos — e, ainda que por vezes tenha sentido o peso do olhar de quem exige um rótulo simples, nunca consegui negar o meu impulso de seguir vários caminhos ao mesmo tempo.
Profissionalmente, este é um dos meus maiores paradoxos. Quando alguém pergunta: "O que fazes?", hesito. Não por falta de clareza sobre as minhas capacidades ou realizações, mas porque o mundo ainda pede respostas curtas para percursos profundos. E como condensar numa frase tudo aquilo que sou, tudo aquilo que faço, tudo aquilo que amo construir?
Por vezes, confesso, sinto um certo embaraço. Como se ser muitas fosse um problema a resolver. Como se a diversidade dos meus talentos precisasse de ser domada para caber nos moldes tradicionais de uma carreira. Mas rapidamente me recordo: a força está precisamente na pluralidade.
Recordo-me de um artigo de Monique Evelle, intitulado "A dificuldade de se explicar quando sua trajetória é múltipla", onde ela partilha as complexidades de tentar definir percursos que não se deixam limitar por rótulos. As suas palavras ressoaram profundamente em mim e inspiraram parte desta reflexão.
Não ser "apenas uma coisa" ensinou-me a criar pontes entre mundos que, à primeira vista, poderiam parecer distantes. A somar saberes. A ver relações que outros talvez não consigam ver. A trazer para cada projecto uma bagagem rica e, muitas vezes, inesperada.
Aprendi também que, por detrás da diversidade, há uma costura invisível: a do propósito. Não estou em muitos lugares por acaso. Há uma linha comum que passa pela vontade de transformar, de comunicar, de cuidar — mesmo que as formas dessa entrega sejam variadas. Essa linha é o que me mantém íntegra, mesmo quando pareço estar em universos tão distintos.
Sei hoje que o meu percurso, aparentemente cheio de desvios, é na verdade uma linha contínua — traçada à minha maneira, no meu tempo, com a minha medida. E é justamente essa capacidade de transitar entre temas, áreas e olhares que me torna quem sou: uma profissional capaz de criar, de inovar, de conectar.
Demorei a aceitar esta verdade: ser muitas é, também, ser inteira. Cada parte de mim alimenta a outra. O que aprendi na educação ressoa na liderança. O que absorvi na cultura ecoa na comunicação. O que vivi no bem-estar ilumina os projectos que abraço.
Não cabe em etiquetas aquilo que está vivo. E eu sou viva, inteira, diversa.
Aos poucos, vou aceitando o meu “ser muitas”. Não como algo a corrigir, mas como uma expressão inteira de quem sou. Em vez de me moldar ao que esperam, escolho seguir com honestidade e escuta. E é aí, nesse lugar múltiplo, que encontro a minha força mais fiel.